Tim Bernardes no Prêmio da Música Brasileira,em 2023 — Foto: Lucas Tavares / O Globo
GERADO EM: 26/12/2024 - 16:51
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Há uns dois ou três anos,fui assistir ao show do Tim Bernardes solo,com seus teclados e guitarras,num teatro em Copacabana. Já tinha ficado muito impressionado com o que ele mostrava em gravações,com seu grupo O Terno,ou solo,ou em participações com outros artistas,mas queria ver ao vivo,que é quando a musica mais emociona e verdades se revelam na emoção do momento. Ao vivo,o artista está sem rede de proteção e corre um risco a cada nota,e justamente essa tensão,essa adrenalina,é que o impulsiona a grandes performances. Toda vez que eu reclamava que estava nervoso para um show,uma palestra,um programa de TV,meu pai me lembrava que “a corda do violino tem que estar esticada. Senão não toca.”
Teatro lotado,público jovem,só duas cabeças brancas: eu,e algumas filas adiante,Caetano Veloso. Sozinho no palco,um jovem grande artista,com um talento e uma versatilidade raros de aparecerem juntos. O estilo,tão buscado e desejado,é a identidade do artista,e quanto mais pessoal for,maior será a tendência à repetição. Não é o caso de Tim,filho do músico Mauricio Pereira,nutrido com uma cultura massiva de música brasileira e internacional,que amplia seus horizontes com gêneros e escolas musicais de várias épocas. Nunca o tinha visto de perto: o moleque é puro estilo,com looks muito loucos e audaciosos,com um fashion pop elaborado para vestir a música moderna que ele faz. Enorme,e bem esguio,com seus cabelos e bigodes fartos,seus óculos,compondo um rosto diferente,suas músicas encantam pela fluência e simplicidade,profundamente elaboradas e bem acabadas.
Depois do show espetacular,fui ao camarim cumprimentá-lo,quando encontrei Caetano e seu filho Tom. Não se sabia quem estava mais feliz e entusiasmado de nós dois,e Caetano me cochichou:
“E a gente pensando que tudo já tinha sido feito...”
Tim é o símbolo de novas gerações de artistas que desmentem os nostálgicos e pessimistas que acreditam que a musica brasileira está piorando. Não é verdade: a música brasileira está ampliando a sua diversidade,rompendo fronteiras,estabelecendo novos gêneros e misturas musicais. Sempre digo que a maior qualidade da nossa música é sua diversidade de gêneros,ritmos e levadas.
Tim e Anitta são extremos dessa potência musical brasileira,tanto no item “prestígio” como “popularidade”,que é a clássica divisão que a indústria do disco inventou.
Há algum tempo,perguntado sobre esta “piora” da música brasileira,Chico Buarque discordou: “Mas como,se os grandes compositores continuam em atividade e produzindo,ao lado de todos os novos nomes de várias gerações ? “
Ele mesmo,Caetano Veloso e Gilberto Gil são a prova.
Uma outra prova,de que as novas gerações tem nomes extraordinários,é Chiquinho Brown,neto de Chico e filho de Carlinhos Brown. Chico diz que ele é o melhor músico da família.
O talento hereditário também vem,aos borbotões,da família Gil,que rodou o mundo encantando o público com sua juventude – e maturidade.
2024-12-27