O presidente chinês,Xi Jinping,e o presidente americano,Joe Biden — Foto: SAUL LOEB / AFP
GERADO EM: 29/11/2024 - 20:54
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A 29ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP29) foi realizada em Baku,no Azerbaijão,estremecida pelo resultado das eleições presidenciais americanas. A vitória de Donald Trump pautou especulações sobre a direção da agenda ambiental americana e seu impacto nas metas de financiamento global.
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Temores sobre a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris renovam a insegurança relacionada a retrocesso significativo,com a eventual retirada do país da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança Climática. Somam-se as preocupações com protecionismo,autoritarismo,negacionismo climático e incentivo aos combustíveis fósseis. Mas,sobretudo,existe um alarme sobre os riscos relativos à ausência da liderança americana no sistema multilateral,como catalisadora da ambição climática para o Norte Global.
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Se essas hipóteses se confirmarem,o que está em jogo?
Não é plausível sustentar que toda a economia de baixo carbono perca tração. Esse trem já partiu da estação,mesmo nos Estados Unidos,com programas que ganharam grande popularidade,como o Inflation Reduction Act. A descarbonização avança de forma inexorável,com a escalada da competitividade das energias renováveis. No entanto o vácuo americano na agenda climática global pode gerar outros reveses geopolíticos. A China está à espreita e,sem dúvidas,preparada,para transformar a guinada dos Estados Unidos em oportunidade de expansão de sua influência política e econômica.
O país asiático é líder na transição energética,investindo pesadamente em energias renováveis e infraestrutura de baixo carbono. Domina esse mercado,liderando as cadeias produtivas de energia solar,eólica,baterias e carros elétricos,com avanços tecnológicos substanciais. Sem contar seu papel único em dar escala a soluções que impulsionam a descarbonização. Em breve,será o maior mercado de carbono do mundo,ultrapassando a União Europeia.
Esse protagonismo coloca condições e alinha interesses para que a China atue cada vez mais intensamente na promoção da agenda ambiental. Vale destacar a importância de ações de adaptação e resiliência,urgentes diante dos eventos climáticos recentes como ondas de calor extremo,enchentes e inundações.
O avanço chinês surfará a ação climática em 2025,por meio da renovação das suas metas climáticas (NDCs),já ambiciosas: alcançar o pico de emissões antes de 2030 e a neutralidade de carbono até 2060. A transição para além dos combustíveis fósseis (sobretudo carvão) é um obstáculo substantivo,mas vem sendo enfrentado com a escalada sem precedentes de energia limpa.
Esse cenário tende a abrir espaço a maior liderança chinesa nas negociações,fortalecendo parcerias bilaterais e regionais,como a iniciativa da Rota da Seda,o Brics+,com pegada cada vez mais ecológica.
O recuo americano poderá alçar a China ao topo da agenda de investimentos verdes,como defensora de um multilateralismo climático inclusivo,tornando sua liderança inquestionável. Estamos a mais um passo na redefinição das dinâmicas de poder global,com a marca da multipolaridade,da segurança climática como um dos principais atributos geopolíticos e do protagonismo chinês cada vez mais forte no século XXI.
*Julia Paletta é especialista em energia e mudanças climáticas do Centro Brasileiro de Relações Internacionais