Vírus da mpox (verde) infectando células (em magenta). — Foto: NIAID
GERADO EM: 18/08/2024 - 04:30
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É preciso que fique claro para todos nós: emergências sanitárias internacionais não sairão “de moda” tão cedo. A mudança climática tende a aumentar a interação entre humanos e potenciais patógenos,e,portanto,o risco de pandemias.
Já temos uma nova estrela nesse palco. Na último dia 14,a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII),o alerta de maior nível da organização,com relação ao vírus mpox (antigo monkey pox / varíola dos macacos – denominação que não deve mais ser usada). O quadro clínico típico da doença é febre,cefaleia e dores musculares,seguidas de uma erupção cutânea com bolhas e crostas que dura de duas a quatro semanas.
Esse tipo de alerta é feito quando há um risco de saúde pública em vários países que exige uma resposta coordenada. O mesmo vírus já havia sido declarado como uma emergência global em julho de 2022. Mas os casos foram diminuindo e em maio de 2023 e o status de emergência foi cancelado.
Este ano o número aumentou de forma exponencial e a doença se tornou mais letal. E se espalhou para países que não haviam relatado mpox anteriormente.
O vírus possui duas linhagens básicas,a Clado 1 e Clado 2. A segunda,mais branda,foi a responsável pela emergência de 2022,quando se tornou mais transmissível. A crise atual é causada por uma nova variante,a Clado1B,que é cerca de 10 vezes mais letal que a Clado 2. Tragicamente,a maioria das mortes é de menores de 15 anos. Em toda a África,a doença provocou cerca de 15 mil casos e mais de 450 mortes em 2024,um número muito maior que o da primeira fase.
Segundo a OMS,o potencial de disseminação do mpox é preocupante. Mas a declaração de emergência não significa que a doença tem o mesmo nível de ameaça global da Covid-19. Ela é decretada para assegurar que os países tomem as medidas necessárias para controlar a disseminação,divulgar informações corretas e proteger os mais vulneráveis.
Não é preciso pânico,mas atenção. Pelas evidências atuais,a possibilidade do mpox assumir proporções catastróficas parece bem inferior a outras doenças com transmissão respiratória. Ele se espalha principalmente pelo contato direto com lesões na pele e fluidos corporais de uma pessoa infectada,ou indireto com roupas e objetos contaminados. Gotículas respiratórias de tosse e espirros também podem contaminar quem está próximo.
O quadro clínico predominante é de lesões na pele,e a transmissão respiratória (que provoca uma disseminação mais rápida) é menos comum. O aparecimento de lesões visíveis permite identificar casos mais rapidamente (se bem que uma pessoa doente pode transmitir a doença antes das feridas aparecerem). E já existe uma vacina contra a doença,que foi aplicada no Brasil ano passado para grupos de risco. Por tudo isso o mpox é,no momento,menos assustador que a Covid. Mas a doença merece atenção,monitoramento e organização – exatamente o que OMS está recomendando.
Os cuidados atuais com mpox são: procurar atendimento se apresentar lesões,bolhas ou coceira em qualquer parte do corpo; isolamento dos casos e vigilância dos contactantes. Quem cuida dos doentes deve usar máscaras,luvas,etc. E claro,fazer a higiene correta das mãos e manter a saúde em dia com boa alimentação,exercício e sono adequado.
A mpox reforça também a importância de combatermos a mudança climática. A invasão humana em habitats naturais nos expõe a animais “reservatórios” de doenças infecciosas. O derretimento do gelo permanente em regiões árticas pode liberar antigos vírus e bactérias perigosos. Esses e outros fatores facilitam o surgimento de novos microorganismos e favorecer suas mutações,aumentando o risco de emergências sanitárias e pandemias.
O aviso do vírus é claro: mais do que nunca é preciso cuidar da nossa casa.