Gabi Portilho marcou o gol que levou a seleção brasileira feminina para a semifinal nos Jogos Olímpicos de Paris-2024 — Foto: Divulgação/AFP
GERADO EM: 08/08/2024 - 04:30
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Não,esta coluna não é sobre futebol. Meu apreço por esportes é semelhante ao de Nicolás Maduro pela democracia. Fui daquelas crianças que a cada 15 dias sacavam da cartola um atestado médico para fugir da Educação Física no colégio. Quem,em sã consciência,fica feliz em ter que jogar qualquer coisa às sete da manhã?
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Gosto da estranheza dos Jogos Olímpicos de Inverno e seus poderes hipnotizantes: aqueles carrinhos em alta velocidade,que mais parecem um brinquedo da Disney (e que o Google me informa se chamar bobsled) ou o curling,um primo de segundo grau da bocha,com o esfrega-esfrega da “vassourinha” na pista de gelo para deter o avanço da pedra de granito. Difícil mudar de canal.
A falta de intimidade com esportes sempre me rende um susto feliz diante da comoção causada com os Jogos Olímpicos. Agora,em Paris,não é diferente. Pingue-pongue (o.k.,tênis de mesa) vira assunto sério. Esgrima é questão de honra. Torcemos por chutes e socos (que me dão mais aflição do que prazer). Um país de 200 milhões de juízes avaliando um ippon.
A ironia do destino é ser casado com a pessoa que mais entende de esportes que conheço,não só por força do trabalho,como também por pura paixão. Há quase 15 dias o perdi para o sofá diante da TV. Dias desses,puxando conversa mole só para me certificar de que ele ainda estava vivo,perguntei pela seleção masculina de futebol. Só aí fiquei sabendo que não foi classificada. Uma surpresa retardatária,como quem recebe um spoiler de novela do Canal Viva.
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Quer saber? Mesmo com atraso,achei boa essa eliminação. A ausência do futebol masculino na Olimpíada é simbólica. Foram tantos escândalos recentes envolvendo atletas da modalidade — assédios morais,abusos sexuais,gritos de guerra xenofóbicos,adultérios,evasão de divisas,apoios políticos escusos,obras em áreas florestais,corrupção com sites de apostas — que o futebol dos homens mais parece aquele amigo sem-noção,que merece um tempo na geladeira.
O esporte,assim como a cultura,é agente transformador de realidades sociais. É raro ver um adolescente deixar uma escola americana sem ter desenvolvido alguma habilidade artística ou esportiva,por uma razão simples: elas abrem portas para as mais disputadas faculdades. Toda a delegação americana de esgrima,por exemplo,é formada por Harvard.
Rebeca Andrade,Flávia Saraiva,Jade Barbosa,Júlia Soares e Lorrane Oliveira na ginástica artística,Beatriz Souza,Larissa Pimenta,Rafaela Silva,Ketleyn Quadros no judô,Tatiana Weston-Webb no surfe,Bia Ferreira no boxe,Rayssa Leal no skate,as meninas do futebol feminino,todas fantásticas,a maioria mulheres pretas e que ultrapassaram uma infinidade de sacrifícios financeiros e familiares para poderem estar no pódio. Elas representam muito mais o nosso país do que a atitude blasé dos rapazes da bola,de fone de ouvido e mochila Louis Vuitton. Eles que fiquem mais tempo no banco de reservas (ou dos réus). Já passou da hora de um outro Brasil brilhar e fazer a festa.