Pix — Foto: Agência O Globo
GERADO EM: 16/01/2025 - 22:36
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Um vídeo publicado pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG),aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL),alcançou mais de 120 milhões de visualizações em apenas 24 horas. No vídeo,Ferreira admite que o Pix não será taxado,mas insinua que essa possibilidade estaria nos planos futuros do governo Lula. “Não,o Pix não será taxado,mas não duvido que possa ser”,afirma.
Força nas redes: Vídeo de Nikolas fez parte de ação coordenada de marqueteiro de Bolsonaro sobre PixO poder da desinformação: Quatro brasileiros contam por que passaram a evitar o uso do Pix
O impacto desse tipo de desinformação é profundo. O Banco Central relatou a maior queda no número de transações desde a implementação do sistema,reflexo direto da desconfiança gerada na população. O episódio também evidencia como fake news criam um ambiente de descrédito em relação ao governo e às instituições democráticas.
Essa dinâmica é alimentada por algoritmos das plataformas digitais,que priorizam conteúdos de alta carga emocional negativa – frustração,medo e ansiedade. Histórias como as divulgadas por Ferreira e pelo deputado Osmar Terra (MDB-RS),que publicou um vídeo deepfake atribuindo declarações falsas ao ministro da Fazenda,Fernando Haddad,seguem exatamente essa lógica. Mesmo com notas de comunidade adicionadas ao post no X (antigo Twitter) para contextualizar a informação,o estrago já estava feito.
O alcance e a velocidade de disseminação de fake news são alarmantes. Um estudo do MIT revelou que notícias falsas têm 70% mais chances de serem compartilhadas do que as verdadeiras e chegam ao público seis vezes mais rápido. Isso demonstra como é difícil para informações verificadas competirem em um ambiente digital onde não existe igualdade de condições.
A situação se agrava com a decisão de Mark Zuckerberg de encerrar parcerias com verificadores de fatos no Instagram e no Facebook,apostando em notas de comunidade semelhantes às do X. No entanto,estudos questionam a eficiência desse mecanismo,como evidenciado no caso da fake news promovida por Osmar Terra,em que as notas não foram o suficiente para contê-la.
Essa realidade é um prenúncio preocupante para as eleições de 2026. Atores antidemocráticos continuarão a se valer de desinformação para manipular a opinião pública,e as plataformas,movidas por seus modelos de negócios baseados em engajamento,seguem promovendo esse jogo sujo. A regulação das plataformas digitais é urgente,mas não suficiente. É fundamental ocupar outros espaços e agir de forma proativa para preservar os processos que sustentam a democracia.
O problema não é apenas a disseminação de fake news,mas também a permissividade que essas práticas encontram. A falta de responsabilização dos que espalham desinformações,somada à lógica das plataformas,cria um ambiente onde a democracia é constantemente minada. Em vez de lamentar a desconexão entre o centro democrático e a população,é hora de reconhecer as dinâmicas estruturais que favorecem a ascensão de narrativas antidemocráticas.
O que está em jogo é mais do que eleições justas em 2026. É a capacidade de a sociedade de discernir entre o real e o falso,de confiar em suas instituições e de sustentar os valores democráticos. O caso do Pix é apena um sinal de um desafio que precisará ser enfrentado com coragem e determinação agora. Afinal,o governo cedeu dessa vez,mas até que ponto está disposto a ceder? Existem princípios inegociáveis em uma democracia,especialmente quando o outro lado age sustentado por mentiras.
*David Nemer é antropólogo da tecnologia e professor da Universidade da Virginia,EUA