‘A morte do meu filho é uma dívida de sangue e vamos cobrá-la’, diz mãe de estudante de medicina executado pela PM em SP

2025-01-17    HaiPress

Silvia e Julio no quarto do estudante de Marco Aurelio Cardenas,com a foto do estudante — Foto: Edilson Dantas

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GERADO EM: 16/01/2025 - 23:15

Mãe de estudante de medicina morto pela PM busca justiça

Mãe de estudante de medicina morto pela PM em SP busca justiça incansavelmente. Família luta contra violência policial após filho ser executado. Pais pressionam autoridades e denunciam falta de prisão do policial responsável. Caso gera debate sobre conduta policial e busca por mudanças.

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Logo depois do batente da porta,o banner,quase em tamanho real,mostra uma foto de Marco Aurélio Cardenas sorridente. Os retratos do estudante de medicina morto com um tiro à queima-roupa em novembro,durante uma abordagem da Polícia Militar,estão por toda parte na casa da Vila Mariana onde vivia com os pais,os médicos Silvia Prado e Julio Acosta Navarro. Em busca de justiça pelo assassinato do filho de 22 anos,os dois decidiram encampar uma cruzada junto a autoridades contra um problema que se tornou a pedra no sapato do governo Tarcísio de Freitas: a violência policial.

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Na terça-feira,a juíza Luciana Menezes Scorza negou a prisão preventiva do autor dos disparos,embora o tenha tornado réu por homicídio. Silvia,que é neurointensivista,agora concilia a rotina de plantões com leituras técnicas para entender os detalhes jurídicos do processo sobre a morte do filho.

— Estamos encarando como uma luta,porque queremos que algo mude na segurança pública de São Paulo. A morte do meu filho é uma dívida de sangue,e vamos cobrá-la do Estado — diz.

O cardiologista Navarro reduziu a atividade profissional ao mínimo para se dedicar quase integralmente à busca por justiça.

— Minha esposa sente uma dor visceral — conta Navarro. — Ela voltou ao trabalho e tenta sobreviver ao dia a dia. No meu caso,sou responsável por atuar em todas as frentes (na busca de justiça).

Silvia,mãe do universitário,com a foto do filho — Foto: Edilson Dantas

Nas últimas semanas,o médico se encontrou com autoridades como o delegado-geral da Polícia Civil,Arthur Dian,parlamentares,o procurador-geral de Justiça do estado,Paulo Sérgio de Oliveira Costa,e enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ontem,viajou a Brasília para conversar com o ministro da Justiça e Segurança Pública,Ricardo Lewandowski. A família também promete continuar no pé de Tarcísio e do secretário de Segurança Pública,Guilherme Derrite.

— Em 2026,vou fazer a população lembrar o que o Tarcísio falou quando teve a matança (Silvia se refere a quando o governador respondeu que não estava “nem aí” ao ser informado que entidades de direitos humanos levariam à ONU as mortes causadas por policiais na Baixada Santista. No fim do ano passado,diante de outros casos de violência policial,Tarcísio admitiu problemas na área de segurança). Não se zomba dos mortos — diz a neurointensivista.

Desde 1997 no Brasil

Peruanos naturalizados brasileiros,o casal se conheceu na faculdade e mudou-se para o Brasil em 1997,atraído pelas oportunidades em pesquisa científica. Os dois trabalham no Hospital das Clínicas da USP,e Silvia também atua no Hospital de Ermelino Matarazzo.

A Secretaria de Segurança Pública tem afirmado que as mortes decorrentes de intervenção policial são “rigorosamente apuradas” com acompanhamento das Corregedorias,Ministério Público e Poder Judiciário e não tolera desvios de conduta. Além disso,“mantém comissões permanentes para revisar e aprimorar os treinamentos oferecidos ao efetivo,assim como suas estruturas investigativas”.

Nesta semana,Silvia divulgou uma carta aberta pedindo a demissão de Derrite. Tarcísio respondeu que manteria o secretário no cargo,mas disse,pela primeira vez,quase dois meses depois da morte de Marco Aurélio,que se sensibilizava com a dor da família.

— Ele disse que entende o “sentimento dessa mãe”,mas não teve coragem de falar que entende o sentimento de todas as mães vítimas de violência policial,como a mãe da Victoria (Victoria Manoelly,de 16 anos,morreu baleada na semana passada. Segundo a investigação da Polícia Civil,um policial militar deu uma coronhada na cabeça do irmão da jovem e a arma acabou disparando contra ela) — afirma Silvia.

Os pais contam que se revoltaram por ter sido negada a prisão do policial Guilherme Augusto Macedo,autor do tiro que matou o rapaz de 22 anos.

— A juíza disse na decisão que o Guilherme não prejudicou as investigações,mas na primeira versão do boletim de ocorrência eles diziam que meu filho tinha tentado tomar a arma de um deles. Como mentir em um boletim de ocorrência de um fato seguido de morte não é obstrução de justiça? — questiona a médica.

Depois da morte do filho,Silvia tornou público o perfil dela no Instagram para divulgar as cartas que envia às autoridades. Conta que,no entanto,também recebe diversos comentários questionando as atitudes do filho no momento da abordagem policial. O vídeo das câmeras de segurança mostra o jovem,sem camisa,fechando o retrovisor do carro dos PMs e saindo correndo. Segundo a mãe,houve um desentendimento entre o rapaz e a namorada,mas não agressão.

— Eles tiveram uma discussão de namoradinhos. Ele estava voltando para casa,a menina manda um zap para ele,e ele volta para o hotel. Os policiais veem ele de trás. Andar sem camisa não é nenhum crime no Brasil — diz.

No celular,a mãe mostra,o vídeo das câmeras corporais dos PMs com os últimos momentos de vida do filho. Os prints mostram o rapaz contra uma parede,desarmado,diante do revólver do policial. Silvia diz que revê as imagens todos os dias.

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