‘Veganuary’, mês sem consumir alimentos de origem animal, cresce no Brasil; veja os benefícios e cuidados da dieta vegana

2025-01-17    HaiPress

Refeição vegana. — Foto: Reprodução/Freepik

RESUMO

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GERADO EM: 16/01/2025 - 11:28

"Veganuary: Mês sem carne e seus benefícios"

O "Veganuary" cresce no Brasil incentivando um mês sem alimentos de origem animal,com benefícios à saúde,ao meio ambiente e aos animais. A dieta vegana demanda cuidados nutricionais para evitar deficiências,mas estudos apontam melhorias cardíacas,metabólicas e redução do risco de doenças. A dieta bem planejada é elogiada por especialistas,mas a suplementação de nutrientes como B12,ferro e ômega 3 pode ser necessária para veganos. A diversificação alimentar e acompanhamento profissional são essenciais para uma transição saudável.

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O ovo mexido pela manhã,o leite no café,um bife no almoço e um frango grelhado para terminar o dia. A alimentação da maioria dos brasileiros,e da população mundial,é composta em grande parte por itens de origem animal. Mas e se essa rotina mudasse para comidas exclusivamente de origem vegetal,ao menos por um mês?

É o que propõe o “Veganuary”,ou “Janeiro Vegano”,movimento que estimula as pessoas a adotarem a dieta vegana ao longo do primeiro mês do ano. A iniciativa começou no Reino Unido ainda em 2014 e tem crescido ao longo da década,chegando oficialmente a 21 países. No Brasil,a primeira edição foi em 2021,e hoje a campanha conta com a organização da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB).

Somente no ano passado,mais de 25 milhões de pessoas pelo mundo aderiram à prática. A divulgação tem embaixadores de peso,como os cantores Paul McCartney e Billie Eilish,o ator Joaquin Phoenix e,no Brasil,Xuxa e Luisa Mell. Neste ano,Larissa Maluf,diretora de comunicação da SVB,conta que mais de mil brasileiros já se inscreveram.

— Essas pessoas recebem diariamente e-mails com dicas,opções de restaurantes veganos próximos e receitas. São mais de cem empresas apoiando com descontos. Nosso propósito é esse,que seja acessível para todo mundo. E temos a expectativa de que a maioria dessas pessoas de alguma maneira mantenham uma redução dos produtos de origem animal depois de janeiro — conta Larissa.

Os dados de 2024 mostram o impacto da iniciativa. 82% dos não veganos que participaram disseram que fariam mudanças permanentes na alimentação,e 48% sentiram melhora na saúde. Para especialistas ouvidos pelo GLOBO,há um claro aumento no interesse por dietas que deixam de lado o consumo de itens de animais.

A mais conhecida é o vegetarianismo,que elimina a carne,mas mantém produtos como leite e ovos. Já o vegetarianismo estrito e o veganismo excluem todo e qualquer item que seja advindo de animais – a diferença entre os dois é que os veganos costumam evitar também produtos não alimentícios de origem animal ou testados neles,como couro e determinados cosméticos.

Entre os adeptos do “Veganuary”,os principais motivos listados para esse interesse foram o apoio à causa animal seguido por melhora da saúde e menor impacto ambiental em meio às mudanças climáticas. É como vê também Manuela Dolinsky,professora de Nutrição da Universidade Federal Fluminense (UFF) e autora do livro “Nutrição de vegetarianos” (Editora Payá):

— Sabemos que globalmente há uma crescente conscientização sobre os impactos ambientais da produção de alimentos de origem animal,que aumenta a emissão de gases do efeito estufa e o desmatamento. A popularização de documentários sobre o tema e o compartilhamento de benefícios para a saúde são outros aspectos que ajudam a explicar essa crescente.

A estudante de Belas Artes na UFRJ Hannah Cunha,de 23 anos,deu início ao processo de se tornar vegana ainda em 2013. Começou com a redução do consumo de carne,passou para o vegetarianismo e,por fim,aderiu à dieta sem nenhum item de origem animal. Ela conta que o tema chegou nela por meio da irmã,e que juntas buscaram mais informações sobre:

— Passamos a entender melhor o que acontece na indústria animal e aquilo me chocou muito pelos maus tratos,pela forma como o animal é visto como produto e não como ser vivo. Ao longo dos anos,fui entendendo também como a agropecuária está ligada a desmatamento,para criar pasto,por exemplo,então foram aumentando os motivos.

A estudante de Belas Artes na UFRJ Hannah Cunha,deu início ao processo de se tornar vegana ainda em 2013. — Foto: Arquivo Pessoal

Em 2012,uma pesquisa do antigo Ibope,encomendada pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB),apontava que cerca de 8% da população se considerava vegetariana no Brasil. Segundo um levantamento da empresa de pesquisa Ipsos de 2023,13% passaram a se rotular como vegetarianos ou veganos.

Outros 7% consomem apenas peixes e frutos do mar,excluindo as demais carnes da alimentação. Juntando os três estilos alimentares,20% não comem as principais carnes de origem animal,e outros 22% da população classificaram a si mesmo como flexitariana,um termo atribuído aos que buscam uma redução no consumo de carnes vermelhas e brancas,ovos e laticínios,não os consumindo em um ou mais dias da semana.

Benefícios da dieta vegana

Para aqueles que aderem à alimentação vegana,as notícias são boas: uma série de estudos têm demonstrado extensivos efeitos benéficos à saúde. Um dos mais recentes foi conduzido por pesquisadores da Universidade de Stanford,nos Estados Unidos,e acompanhou 22 duplas de gêmeos ao longo de dois meses.

Após o período,os resultados foram publicados na revista científica JAMA Network Open,mostraram que os irmãos que seguiram a alimentação vegana tiveram uma queda significativa no colesterol considerado ruim,o LDL,nos níveis de insulina e no peso corporal – o que indicou uma melhor saúde cardiovascular de modo geral.

— Temos muitos estudos que mostram que pode melhorar a saúde cardiovascular,reduzir a possibilidade do desenvolvimento de diabetes,o risco de obesidade e de síndrome metabólica. Para alguns tipos de câncer também já foi relatada uma redução. E geralmente são pessoas bem centradas em relação ao seu estilo de vida,e por isso tem benefícios outros que vão além da alimentação,por atividade física,menos bebida alcoólica — afirma Durval Ribas Filho,médico nutrólogo e presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).

Manuela,da UFF,arrisca dizer que “uma dieta vegana bem planejada é muito superior a uma dieta onívora ocidental que vemos no dia a dia”. Entre os motivos,cita que a preferência por vegetais a torna rica em fibras alimentares,antioxidantes,principalmente de vitaminas e minerais,e de compostos bioativos:

— Essa tríade está associada à redução do risco das doenças crônicas não transmissíveis,que são as cardiovasculares,diabetes,câncer,as que mais matam nossa população. Além disso,temos trabalhos mostrando que a dieta leva a um menor IMC,e sabemos que obesidade é a principal causa das outras doenças crônicas.

No entanto,Natália Oliveira,pesquisadora do Observatório de Epidemiologia Nutricional da UFRJ e professora do Centro Universitário Arthur de Sá Earp Neto (Unifase),lembra a importância de evitar cair em armadilhas de itens direcionados aos veganos,mas que fazem mal à saúde:

— É preciso cuidado pois o mercado de produtos veganos tem crescido muito,e muitos deles são ultraprocessados,ou seja,cheios de aditivos como corantes,aromatizantes e emulsificantes e altos em sódio,carboidratos,então a preferência deve ser por alternativas naturais. Em resumo,estar sempre atento à diversificação no consumo de frutas e hortaliças,no consumo de cereais e leguminosas para atingir as recomendações de proteínas e nutrientes e evitar os alimentos ultraprocessados.

Cuidados para evitar deficiências

Os especialistas explicam que participar apenas do “Janeiro vegano” não traz riscos à saúde,porém aqueles que forem adotar a dieta vegana de forma permanente precisam de um cuidado maior para evitar a deficiência de nutrientes que são mais facilmente encontrados em alimentos de origem animal,principalmente a vitamina B12,o ferro,o cálcio,a vitamina D e o ômega 3.

— Quem quiser adotar,precisa buscar uma orientação de um nutricionista. O profissional é capacitado para realizar o planejamento dietético adequado e otimizar a oferta de nutrientes,evitando os riscos. Se a dieta for planejada por um profissional,não há risco de deficiências — diz Manuela.

É o caso de Hannah,que faz acompanhamento nutricional duas vezes ao ano com uma profissional:

— Acredito que isso é muito importante,conheço pessoas que deixaram o veganismo porque se sentiam fracas. Hoje faço suplementação de vitamina B12,ferro e vitamina D.

No caso da vitamina B12,explica Ribas Filho,pode demorar um ano a um ano e meio para começar a apresentar uma carência. Isso porque há uma reserva do nutriente no fígado,que continua suprindo o organismo por um tempo.

— Depois,a falta começa a aparecer com formigamentos nas extremidades,às vezes durante uma atividade física,com perda de disposição. A necessidade de suplementação é quase permanente porque há uma glicoproteína chamada de fator intrínseco que só é liberada quando consumimos alimentos de origem animal. E é ela que se gruda à vitamina B12 e permite a sua absorção — conta o médico.

Ele explica ainda que a vitamina participa do ciclo de krebs fornecendo energia,tem atividade antioxidante e desempenha um papel na bainha de mielina,a camada que envolve os neurônios,o que a faz ser muito importante para o sistema nervoso.

— Já o ferro,embora tenhamos fontes vegetais,a fonte animal,presente pelo sangue da carne,é melhor absorvida pelo organismo. Mas podemos fazer uma dobradinha que é oferecer ferro junto com vitamina C,o que aumenta muito a sua absorção. Então às vezes o planejamento dietético consegue equilibrar essa necessidade sem suplemento — diz Manuela.

Já o cálcio e a vitamina D não são um problema para os vegetarianos,já que estão muito presente no leite,porém torna-se um ponto de atenção no caso dos veganos pela baixa oferta em itens vegetais,o que pode demandar uma suplementação.

— E o ômega 3 é presente principalmente em peixes de água frias e profundas como atum,salmão e sardinha,por isso também pode faltar. Entre os alimentos vegetais,está disponível principalmente na linhaça. Mas de novo a biodisponibilidade é menor,costumamos indicar a linhaça triturada e consumida na hora para aumentá-la — continua a especialista.

Em relação às proteínas,que costuma ser um outro temor de quem abre mão da carne,a professora da UFF explica que a proteína vegetal de fato costuma ser menos completa que a animal em relação aos aminoácidos,mas que isso pode ser resolvido com uma mistura de diferentes tipos:

— É fácil dentro de um alimento dietético conseguir alcançar o necessário. Os legumes e cereais são muito ricos,o principal exemplo é feijão com arroz,eles complementam um ao outro em relação aos aminoácidos limitantes. Grão de bico,lentilha e outros tipos de feijão,também são boas fontes.

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