Polícia e investigadores chegam à residência do presidente afastado da Coreia do Sul,Yoon Suk-yeol,para cumprir mandado de prisão — Foto: JUNG Yeon-je / AFP
GERADO EM: 02/01/2025 - 22:24
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Cerca de 80 policiais estão no complexo onde fica a residência oficial do presidente afastado da Coreia do Sul,para tentar cumprir um mandado de prisão relacionado ao inquérito sobre o decreto de lei marcial,declarada em dezembro,e a imprensa local afirma que houve confrontos envolvendo os agentes e militares.
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Yoon,que é acusado de insurreição e abuso de poder,se recusou a cumprir três convocações para prestar depoimento no inquérito,o que levou ao pedido de prisão. Além dos problemas criminais,ele ainda enfrenta um julgamento político na Corte Constitucional,iniciado após a aprovação de seu impeachment no Parlamento,que pode afastá-lo em definitivo do cargo.
Os agentes chegaram à residência oficial em Seul no começo da manhã de sexta-feira (noite de quinta-feira no Brasil),em meio a um forte esquema de segurança — foram mobilizados 2,7 mil policiais nas ruas próximas — e diante de centenas de apoiadores do presidente afastado.
De acordo com a agência Yonhap,houve confronto entre os agentes e os responsáveis pela segurança presidencial,incluindo uma unidade militar,antes da entrada no prédio principal do complexo. Segundo relatos,membros de uma unidade do Exército responsável por proteger a residência montaram uma barreira com veículos,e tentaram bloquear a passagem até o local onde estaria Yoon.
Em um novo impasse,já diante do prédio principal,o chefe da segurança presidencial disse aos agentes,segundo a Yonhap,que,por se tratar de uma "área de segurança nacional",não seriam permitidas buscas — o argumento foi o mesmo usado para impedir operações de busca e apreensão em escritórios e salas usadas por Yoon nos dias anteriores à decretação da lei marcial. Houve novo confronto,de acordo com integrantes da equipe de investigação.
Segundo a rede YTN,150 policiais participam da operação,incluindo os que permaneceram do lado de fora.
Yoon Suk-yeol,presidente da Coreia do Sul,durante pronunciamento à população — Foto: Divulgação / Gabinete Presidencial da Coreia do Sul / AFP
A ordem de prisão foi emitida na terça-feira,a pedido do Escritório de Investigação de Corrupção (CIO),depois que o presidente afastado ignorou três convocações para prestar depoimento no processo em que é acusado,dentre outros crimes,de insurreição e abuso de poder,ligado à lei marcial. Foi o primeiro pedido de detenção de um presidente no exercício do cargo na Coreia do Sul (embora suspenso),que permite aos investigadores mantê-lo sob custódia por até 48 horas.
Contudo,seu advogado,Yoon Kab-keun,disse que a ordem era “ilegal e inválida”,e questionou a autoridade do CIO para fazer o pedido de detenção.
— É um pedido de mandado de uma agência que claramente não está autorizada por lei,e o processo de solicitação de mandado não foi transparente — afirmou,na terça-feira,em entrevista coletiva.
Já em meio à ação policial na residência oficial,representantes do presidente afastado disseram que “a execução de mandados ilegais e inválidos não é legal",e que tomarão "medidas legais”.
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Na véspera da operação,Yoon emitiu um comunicado aos seus apoiadores diante da residência oficial,pedindo que “lutem juntos para proteger o país contra forças anti-Estado”,levantando questões sobre a legitimidade da ordem de prisão e agradecendo os “esforços para proteger a democracia livre e a ordem constitucional”. Desde a emissão do mandado de prisão,centenas de apoiadores estão acampados no local,apesar das temperaturas próximas de zero,alguns com bandeiras da Coreia do Sul,dos EUA e muitos cartazes de apoio a Yoon e com críticas à oposição.
“Lutarei até o fim para proteger este país",disse Yoon,em uma mensagem distribuída aos apoiadores na quinta-feira. “Estou vendo vocês na transmissão ao vivo do YouTube.”
Apoiadora do presidente afastado da Coreia do Sul,Yoon Suk-yeok,durante protesto do lado de fora da residência oficial em Seul — Foto: Philip FONG / AFP
Diante das ameaças dos apoiadores do presidente afastado — alguns chegaram a fazer uma corrente humana para impedir a entrada na residência oficial —,e do risco de enfrentamento com os seguranças de Yoon,os agentes da agência anti-corrupção desistiram de tentar executar a ordem de prisão na quinta-feira. Também há um número considerável de pessoas em um ato nos arredores que exige sua saída imediata do cargo.
A operação foi mais um episódio da complexa crise política,social e criminal na qual a Coreia do Sul está mergulhada desde o mês passado.
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No dia 3 de dezembro,Yoon Suk-yeol declarou lei marcial na Coreia do Sul,um mecanismo que não era invocado desde os tempos da ditadura militar,nos anos 1970,acusando a oposição,que domina o Legislativo,de atuar contra a democracia ao barrar seus planos de governo,além de apresentar seguidos pedidos de afastamentos de ministros.
Como apontaram as investigações,Yoon atuou com integrantes das Forças Armadas,e amparado pelo ministro da Defesa,Kim Yong-huyn (preso no mês passado),para bloquear a entrada da Assembleia e prender lideranças políticas,incluindo de sua própria sigla,o Partido do Poder Popular. A medida suspendia qualquer tipo de atividade política,até do Legislativo,que tinha o poder de derrubar a lei marcial.
Manifestante com cartaz pedindo o fim do Partido do Poder Popular,sigla de Yoon Suk-yeol,presidente afastado da Coreia do Sul,em ato nos arredores da residência oficial em Seul — Foto: Philip FONG / AFP
A manobra não durou muito: de madrugada,190 parlamentares conseguiram quebrar o bloqueio do prédio,entrar no plenário e votar pela derrubada do decreto de Yoon. Imediatamente,a oposição do Partido Democrático defendeu o afastamento imediato do presidente,e a abertura de um processo de impeachment. Na primeira votação,no dia 7 de dezembro,não foram atingidos os 200 votos necessários para o afastamento. Na segunda,uma semana depois,204 parlamentares aprovaram a medida.
Yoon foi imediatamente afastado de suas funções,e a Presidência passou a ser ocupada interinamente pelo premier,Han Duck-soo,também alvo de um processo de impeachment ligado à demora na indicação de três juízes da Corte Constitucional,órgão que analisará o afastamento definitivo do presidente do cargo. Desde o final do ano,o Executivo é comandado pelo ministro das Finanças,Choi Sang-mok.
Na semana passada,a Corte realizou a primeira audiência do processo do impeachment,que pode se arrastar por meses — o prazo máximo para a conclusão do processo é de 180 dias,e para que Yoon se torne o segundo presidente a ser afastado em definitivo do cargo desde a redemocratização,nos anos 1980,são necessários os votos de seis dos nove juízes do tribunal. A segunda sessão está marcada para esta sexta-feira.
Em 2017,quando a então presidente Park Geun-hye (que foi condenada a 25 anos de prisão mas posteriormente perdoada) estava no banco dos réus,o processo durou três meses até a decisão unânime pelo afastamento. Treze anos antes,em 2004,a Corte levou cerca de dois meses para devolver o posto a Roh Moo-hyun.