Economia da China — Foto: Bloomberg
GERADO EM: 30/12/2024 - 20:26
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O futuro chegou. “Made in China 2025”,o projeto lançado pelo governo chinês para alavancar o desenvolvimento de uma série de indústrias estratégicas do país,aproxima-se de seu prazo de validade com a maior parte das metas atingidas. Apesar do sucesso,paira um curioso silêncio entre as autoridades sobre o plano,que contrasta com o alarde que cercou seu anúncio,há dez anos. A razão da cautela tem nome: Donald Trump.
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O silêncio é revelador por atestar a incerteza causada em Pequim pela vitória de Trump na eleição presidencial americana. Não é a falta de clareza proposital dos estrategistas chineses para ocultar suas cartas — mas uma perplexidade genuína sobre o roteiro da segunda temporada de Trump na Casa Branca,contam diplomatas e acadêmicos com extensa milhagem no trato com Pequim. As opiniões se dividem entre os que consideram Trump um estrategista hábil e os que o veem como um blefador.
A discrição neste momento sobre o plano “Made in China 2025” (MIC2025) se explica por tocar no coração da rivalidade com os Estados Unidos: a competição tecnológica. Ao ser lançada em 2015,a estratégia despertou nervosismo nos EUA e em outros países do Ocidente. Para os críticos,a proposta de tornar a China líder mundial em setores-chave para a economia do futuro,como inteligência artificial,energia verde e robótica,era um protecionismo camuflado. Acabou servindo de inspiração para outros tentarem o mesmo.
Em maio,o jornal South China Morning Post,de Hong Kong,estimou que 86% das metas haviam sido atingidas. Agora,um artigo da revista científica Nature cita o exemplo da cidade de Hefei,que graças ao plano MIC2025 tornou-se um dos polos de inovação da China,dobrando em dez anos sua produção econômica ao substituir áreas agrícolas empobrecidas por modernos parques tecnológicos e laboratórios de pesquisa.
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Números oficiais são escassos,mas especialistas consultados pela prestigiada publicação britânica concordam que boa parte dos objetivos do MIC2025 foram alcançados,em particular em biofarmacêuticos e energia renovável. Hefei,cidade de dez milhões de habitantes na região central do país,tornou-se modelo para o salto tecnológico da China também por ser a capital dos carros elétricos. Empurradas pelos incentivos estatais,as vendas desses veículos cresceram 35% este ano no país.
Mas isso é insuficiente,reconhece o governo. Ainda que o plano chinês de obter liderança tecnológica tenha tido progressos notáveis,a baixa demanda doméstica mantém o país dependente de mercados externos para sustentar a indústria e impedir que o desemprego dispare. Daí o nervosismo causado pelo risco iminente de uma nova guerra comercial. Embora o governo chinês esteja mais preparado do que no primeiro mandato de Trump,a economia do país hoje está bem mais vulnerável.
Se cumprida,a ameaça do presidente eleito de impor tarifas de importação de até 60% sobre os produtos da China poderia encurtar a expansão da economia do país em mais de 2 pontos percentuais,segundo estudos. Já com dificuldade para cumprir sua meta de crescimento para este ano,o governo chinês terá que ser mais ousado em seus pacotes de estímulos para evitar um tombo maior em 20025,enquanto aguarda o momento que parece tão inevitável quanto imprevisível: negociar com Trump.