Cerimônia no Quartel-General do Exército,em Brasília — Foto: José Cruz /Agência Brasil
GERADO EM: 21/11/2024 - 21:26
O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
CLIQUE E LEIA AQUI O RESUMO
A conclusão do inquérito da tentativa de golpe de Estado foi vista pelo Comando do Exército como uma possibilidade de encerrar a sequência de quase dois anos de divulgação de notícias sobre participação de militares da Força em episódios de ameaça à democracia. A expectativa é que a página seja virada com a individualização das condutas expostas pelas investigações e o fim da suspeição em relação à toda a instituição.
'Cortina de fumaça' e 'espetáculo político': De Damares a Zanatta,bolsonaristas criticam indiciamento do ex-presidenteVeja lista: PF indicia quatro ex-ministros de Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado
Desde 8 de janeiro de 2023,o Exército vinha se dizendo surpreendido com a revelação de que seus oficiais participaram do movimento que,segundo a investigação da Polícia Federal,visava a manter Jair Bolsonaro no poder. O último dos episódios de “constrangimento” para a Força aconteceu na terça-feira,quando uma operação prendeu um general da reserva e três tenentes-coronéis da ativa por envolvimento em um suposto plano para matar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva,o vice Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
A Força espera que,com o fim das investigações,não surjam fatos novos. Assim será mais fácil concluir a missão de “afastar a política dos quartéis” que o general Tomás Paiva recebeu de Lula ao assumir o comando do Exército em janeiro de 2023,13 dias após os atos golpistas de 8 de janeiro.
Quando as revelações de casos de ameaças à democracia por parte militares ganharam corpo,tanto Tomás,como o ministro da Defesa,José Múcio,adotaram o mantra de que era “necessário separar o CPF do CNPJ”. Ou seja,definir o que fora feito por indivíduos e pelo Exército enquanto instituição A Força não emitiu nota após a conclusão do inquérito nesta quinta porque pretende,primeiro,analisar as mais de 800 páginas do relatório final produzido pela PF.
Ao todo,foram indicados 23 militares,além de Bolsonaro. Desses,22 são do Exército,sendo 12 da ativa. O comandante Tomás Paiva tem afirmado que as punições internas acontecerão após o julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF). Antes do julgamento,a Procuradoria Geral da República ainda analisará o inquérito e decidirá se vai denunciar todos os indiciados.
— Se uma pessoa for condenada a uma pena superior a dois anos,o Ministério Público Militar vai perguntar ao Superior Tribunal Militar se ela tem possibilidade de continuar com as suas funções de militar de carreira do Exército. Se for menos,a pessoa cumpre a pena e depois vai ser restabelecida a sua condição na carreira. É isso que vai acontecer — disse o comandante,em junho,em entrevista ao GLOBO.
Desde o começo do terceiro mandato Lula,há desconfianças em relação à conduta dos integrantes do Exército. Nos primeiros seis do mandato,a segurança do presidente foi feita pela Polícia Federal e não pelos militares cedidos ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI),como é tradição.
Lula ainda revelou que optou por não escalar militares como ajudante de ordens,o que também é praxe. O petista disse que decidiu usar na função servidores que já trabalhavam com ele por perda de confiança nos militares. Por ser ex-presidente,Lula tinha direito a assessores.
— Eu não tenho ajudante de ordens. Os meus ajudantes são os companheiros que trabalhavam comigo antes. Por que eu não tenho? Eu pego o jornal e o motorista do (ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional,General) Heleno dizendo que vai me matar e que eu não vou subir a rampa. Um outro tenente disse que vai me dar um tiro na cabeça e que eu não vou subir a rampa. Como é que eu vou ter uma pessoa na porta da minha sala que pode me dar um tiro? — questionou Lula,em um café da manhã com jornalistas após o 8 de janeiro.
Depois disso,Lula decidiu promover a troca no comando do Exército com a saída do general Júlio César de Arruda,que havia sido indicado pelo próprio petista menos de um mês antes. Arruda vinha insistindo na promoção do tenente-coronel Mauro Cid,ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro e indiciado agora no inquérito da PF,para chefiar o 1º Batalhão de Ações e Comandos,em Goiânia.
Paiva tinha chamado a atenção de Lula depois que viralizou um vídeo no qual o general pede respeito ao resultado das urnas em uma momento que o sistema eleitoral era atacado por Bolsonaro e outros militares. Então comandante militar do Sudeste,o general pediu à tropa,em janeiro de 2023,respeito ao resultado das urnas e chamou os últimos atos no país de “terremoto político”.