Nem mesmo a possibilidade de a cirurgia impedir a amamentação foi capaz de intimidar a americana Cheyenne Lin,de 26 anos. — Foto: Maggie Shannon/NYT
GERADO EM: 20/10/2024 - 04:30
O Irineu é a iniciativa do GLOBO para oferecer aplicações de inteligência artificial aos leitores. Toda a produção de conteúdo com o uso do Irineu é supervisionada por jornalistas.
CLIQUE E LEIA AQUI O RESUMO
As mulheres entram nos consultórios dos cirurgiões com fotos exibidas em seus telefones. Miley Cyrus. Keira Knightley. Bela Hadid. Quero que meus seios fiquem assim,dizem.
Entenda: A medicina não considera mais 36,6 graus como a temperatura normalVocê entende os sinais do seu gato? O ronronar e o balanço do rabo não são sinais de um bichinho satisfeito
Às vezes,uma mulher chega à consulta inicial com o sutiã que espera usar. Ou ela dirá: “Mal posso esperar pelo meu verão sem sutiã”. Amigas contam às amigas sobre suas reduções de mama.
Tiffany Dena Loftin,que tem 35 anos e é sindicalista em Atlanta,foi encorajada a se submeter à redução dos seios depois de examinar os seios nus de sua amiga Jamira Burley,36,no FaceTime: seus curativos,suas incisões,seus mamilos machucados. Loftin não gosta de hospitais. As agulhas a aterrorizam. Mas Burley disse: “Tiffany,o alívio e a alegria que estou sentindo também estão disponíveis para você do outro lado do seu medo”.
Depois da lipoaspiração,o aumento dos seios é o procedimento de cirurgia estética mais popular nos EUA,com cerca de 300 mil mulheres se submetendo a implantes a cada ano. Mas a área em crescimento na cirurgia estética dos seios é torná-los menores. Em 2023,mais de 76 mil mulheres nos EUA realizaram cirurgia eletiva de redução de mama,um aumento de 64% desde 2019,de acordo com a Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos. Esse número não inclui as principais cirurgias de afirmação de gênero ou reconstruções mamárias após doenças. (No Brasil,foram realizadas mais de 95 mil reduções de mama em 2023. Um aumento de 9% em comparação com 2019,segundo dados do ISAPS).
O aumento se reflete em todas as faixas etárias,mas especialmente entre as mulheres com menos de 30 anos,que são consumidoras entusiastas de cirurgia plástica em geral. As meninas com menos de 19 anos representam uma parte pequena,mas em rápido crescimento do mercado.
As cirurgias de redução consideradas “medicamente necessárias” e cobertas por planos de saúde representam um grupo muito menor do que as operações estéticas,mas as linhas gerais de tendência — um aumento recente e repentino,especialmente entre as mulheres mais jovens — são as mesmas,segundo uma análise do Instituto Health Care Cost.
Não só mais mulheres querem ser pequenos; elas querem que eles sejam ainda menores. Jerry Chidester,cirurgião plástico de Salt Lake City,disse que suas pacientes costumavam pedir taça “C”. Agora,elas querem “B”. Ele costuma fazer cinco reduções de mama por semana,principalmente em mães jovens no pós-parto.
Setenta por cento das mulheres em todo o mundo não gostam do tamanho das suas mamas. Isso pode ocorrer porque os seios da mulher estão sujeitos a avaliações e críticas constantes.
Sempre à vista,os seios fazem alusão ao corpo nu da mulher. Evocam nos outros pensamentos e sentimentos sobre a sua feminilidade,a sua disponibilidade sexual,a sua idade,o seu peso,a sua atratividade,o seu papel materno. Os seios podem ser objetos de fascínio,desejo e fetichização. Também repulsa e escárnio.
Seios grandes chamam mais atenção — positiva e negativa — do que os menores. Uma pesquisa de mercado realizada em 2013 por um fabricante de lingerie estimou o tamanho médio da taça americana em “DD”.
A maioria das pacientes que fazem redução de mama tinha seios maiores do que isso. O peso dos seios grandes pode causar dores nas costas,pescoço e ombros. Eles podem impedir a mobilidade e o condicionamento físico.
Então decidir reduzi-los,torná-los mais leves,menores,mais fáceis de carregar e cobrir — mais discretos — pode ser visto como um ato de amor próprio e de empoderamento,uma priorização da mulher,enfim,de seu próprio conforto e independência sobre o que outros tradicionalmente acham sexy.
Os médicos dizem que seus pacientes parecem dispostos a conviver com as cicatrizes,que circundam o mamilo,percorrem a parte inferior da mama como uma linha longitudinal e,às vezes,traçam as costelas sob a mama,onde fica a armação do sutiã. Durante as sessões do FaceTime,Loftin conversou com Burley,que mora em Oakland,sobre o que ela estava sacrificando — ser convencionalmente agradável aos homens — e sobre se seu namorado recuaria diante das cicatrizes ou se ressentiria com a mudança dramática em sua forma. Mas Burley parecia tão mais inteligente,diz Loftin,que também se sentiu inspirada a se consultar com um cirurgião.
E muitas mulheres não se intimidam com a possibilidade de a cirurgia impedir a amamentação. De acordo com uma revisão de estudos,mulheres que fizeram redução têm três vezes mais probabilidade de não conseguirem amamentar.
Cheyenne Lin,que tem 26 anos e é professora substituta em Fresno,Califórnia,é casada e conta que provavelmente quer ter filhos algum dia,mas a maioria das mulheres da sua família tem dificuldade em amamentar.
— Então,quando eles disseram: “Talvez você não consiga amamentar”,eu pensei que isso nem estava na minha lista de preocupações — afirma Lin,que fez sua cirurgia em julho.
Em 2012,um cirurgião plástico inglês chamado Patrick Mallucci publicou em uma revista médica um artigo que tentava definir a perfeição da mama.
Mallucci baseou seu estudo na análise de cem fotos de mulheres de topless publicadas no site do tabloide The Sun,argumentando que seus seios refletiam um consenso sobre atratividade. Em seu artigo,descreveu,na linguagem dos polos,curvas e ângulos,o que esses seios tinham em comum. Eles eram arredondados abaixo do mamilo,não muito redondos acima dele e o mamilo ficava no alto do seio. Nos seios “pouco atraentes”,escreveu,os mamilos apontavam para baixo.
Kelly Killeen,cirurgiã de Beverly Hills,lembra de ter aprendido sobre o padrão de Mallucci como residente médico e de ter ficado furioso. Os seios da maioria das mulheres simplesmente não são assim. “Odeio a palavra ideal”,disse em uma entrevista. Se um seio ideal só é alcançado através de cirurgia,ela acrescentou: “Será que deveria ser ideal?.”
Apenas cerca de 20% dos cirurgiões plásticos são mulheres,e as pacientes que consideram a redução das mamas descrevem frequentemente se depararem com uma cultura profissional sexista. Suma Kashi,que tem 41 anos e mora em Los Angeles,lembra-se de ter conversado com um futuro cirurgião que disse: “Não acho que seu marido vá gostar disso”. “O que meu marido tem a ver com isso?”,disse Kashi em uma entrevista.
Essas ideias sobre a perfeição dos seios estão presentes no mundo das meninas. Adolescentes com seios grandes frequentemente lutam contra baixa autoestima e distúrbios alimentares. As mulheres jovens aprendem a se cobrir com moletons e camisetas extragrandes.
Elas comprimem com sutiãs duplos e param a patinação artística,a dança e a corrida. Ouvem palavras negativas dirigidas a seus corpos e voltam essas descrições para si mesmas. Antes da redução,os seios de Lin eram “parecidos com panquecas,achatados e flácidos”,descreve. Ela começou a odiá-los tanto que desviava os olhos quando se enxugava após o banho.
Tiffany Loftin acredita que a redução dos seios é um sinal de sua confiança e autonomia. Gastar seu próprio dinheiro para viver em um corpo que funcione melhor para ela é poder,não importa o que as mulheres mais velhas de sua vida lhe digam sobre como ela era linda e perfeita antes.
— Este é o meu corpo. Não estou fazendo isso pelos homens — resume.
Seios pequenos podem não chamar tanta atenção no metrô ou na rua quanto os seios maiores,mas também estão na moda. Enquanto seios grandes sinalizam maternidade e disponibilidade sexual,seios menores podem transmitir juventude,feminilidade,puberdade,magreza e androginia.