Brasília amanhece encoberta por fumaça causada por incêndios florestais dos últimos dias — Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
GERADO EM: 22/09/2024 - 03:30
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Nas últimas duas semanas,Lula mostrou como o governo está mobilizado para enfrentar os incêndios e as queimadas. Em Manaus,anunciou a criação de uma Autoridade Climática. Em Brasília,reuniu-se com o presidente do Supremo Tribunal,do STJ,do TCU,do Senado e da Câmara e disse que “a gente não estava 100% preparado para cuidar dessas coisas”.
Tudo teatro. A Autoridade Climática,detonada nos primeiros meses do seu mandato,continua no mundo das promessas. A reunião de Brasília produziu apenas uma procissão de carros oficiais. No dia seguinte,Lula não teve agenda para se reunir com os governadores,pessoas que têm caneta para tomar medidas.
O governo não estava “100% preparado” porque vive no mundo da fantasia. Produz reuniões,eventos e anuncia a criação de conselhos,naquilo que o repórter Bruno Boghossian chamou de “ciranda da alta burocracia”.
“Ciranda,cirandinha,
vamos todos cirandar.”
Boghossian mostrou que,cirandando,o governo criou em junho uma sala de situação para enfrentar a seca e os incêndios. Depois da segunda reunião nessa sala de Brasília,a ministra do Meio Ambiente,Marina Silva,informou:
“Já estamos operando em plenas condições de ações. Já estamos com a sala de crise montada.”
“O anel que tu me destes
Era de vidro e se quebrou.”
Durante três anos,o Brasil passou por uma pandemia com um presidente negacionista. Agora,diante da emergência climática,o presidente tem outro estilo,o da ciranda.
Melhorou-se,mas a raiz do problema continua no mesmo lugar,com o mesmo tamanho: a burocracia acredita que seu palavrório e eventos produzem ações. Num caso,louvava-se a cloroquina e negava-se o problema. No outro,reconhecendo-o,acredita-se que ciranda resolve. Alguém acha que evento lustrado com a presença de presidentes de tribunais resolve o problema dos incêndios?
“Por isso,dona Rosa
Entre dentro desta roda
Diga um verso bem bonito
Diga adeus e vá se embora.”
O gosto pelo palavrório vem de longe. Em 2018,o país ralou uma greve de caminhoneiros que desabasteceu cidades e quebrou uma perna do governo. Dois empresários foram filmados incitando os caminhoneiros. No meio da crise,um ministro anunciou que estavam abertos 37 inquéritos em 25 estados para apurar a participação de empresas na paralisação. Deram em nada. Cirandou-se.
Agora a Polícia Federal informa que há 85 inquéritos abertos para apurar a origem criminosa de alguns incêndios. A ver.
O Banco Central subiu os juros para 10,75%,e Roberto Campos Neto passou incólume. Lula dispensou-o dos ataques com que o honrava desde o ano passado,quando o Copom baixava a Selic.
A decisão pela alta,unânime,teve o voto de Gabriel Galípolo,próximo presidente do Banco.
Os ataques a Campos Neto eram pura fumaça,espalhada no picadeiro para enganar a plateia. Como ensinava Tancredo Neves,esperteza quando é muita,come o dono.
Os serviços de inteligência de Israel falharam miseravelmente em outubro do ano passado,quando o Hamas atacou o país. Daí a subestimá-los,é mau negócio.
O Hezbollah do Líbano comprou pagers e walkie-talkies que começaram a explodir,matando e ferindo centenas de pessoas.
A operação teve uma essência terrorista. Morreram pessoas que não sabiam da origem dos aparelhos e também outras que estavam apenas por perto.
Durante a ditadura,quando o Brasil teve um programa nuclear secreto (e mambembe),com a ditadura de Saddam Hussein no Iraque,os israelenses teriam sido finíssimos. Segundo um ministro contou à época,caixas de equipamentos fabricados na França chegaram a Bagdá contendo também exemplares do Velho Testamento.
O programa era tão mambembe que Saddam Hussein,falando de um empresário paulista a um embaixador brasileiro,disse-lhe:
Por favor,diga a ele para não vir aqui oferecer o que vocês não têm. (Era o projeto de uma bomba atômica) Essa operação resultou na morte de um jornalista brasileiro,assassinado em 1982 por brasileiros,junto com a mulher e um barqueiro. O casal passeava no mar do Rio.
Alexandre von Baumgarten escrevia um livro sobre a transação nuclear com o Iraque. Chamava-se “Yellow Cake”,nome de um pó de urânio natural.
Como havia um toque de trapalhada nas operações secretas da ditadura,sua mulher,o barqueiro e até o barco sumiram,mas o cadáver de Baumgarten acabou batendo numa praia. Ele estava sentado na borda da lancha quando foi baleado e caiu no mar. Afundou e apareceu dias depois,com duas balas no corpo.
A crise climática,com suas queimadas,serviram para confirmar que Lalo de Almeida é um dos grandes fotógrafos da atualidade. Assim como os garimpeiros de Serra Pelada projetaram Sebastião Salgado,há alguns anos,o olhar de Lalo mostra a crise com um toque de poesia dramática,indo do animal carbonizado aos caminhantes solitários pelo leito de um rio seco da Amazônia.
Saiu nos Estados Unidos mais uma biografia de Pamela Harriman. Chama-se “Kingmaker” e conta a vida dessa grande mulher. Ela morreu em 1997,aos 76 anos,depois de sofrer um AVC enquanto nadava (sem molhar o cabelo) na piscina coberta do hotel Ritz de Paris.
Pamela era embaixadora dos Estados Unidos na França,nomeada pelo presidente Bill Clinton. Anos antes,quando ele era um gorducho provinciano do Arkansas,e havia perdido a reeleição para governar seu Estado,sentia-se um caco. Ela o apresentou às pessoas certas de Washington,Clinton ganhou a eleição seguinte no Arkansas e acabou na Casa Branca.
Ela havia montado um fundo de arrecadações apelidado de PamPac que refrescou campanhas Democratas país afora,inclusive de outro que estava na pior e chamava-se Joe Biden.
A autora,Sonia Purnell,tentou sair do estereótipo da cortesã. Os homens passavam por sua vida e saíam maiores. O grande exemplo foi o Gianni (Fiat) Agnelli,que entrou como um playboy italiano e saiu como o grão-senhor internacional que era.
Pamela nasceu em Digby,filha de um baronete inglês. Casou-se com o filho (chato e bêbado) de Winston Churchill. Num século em que homens colecionavam namoradas,ela colecionou namorados. Purnell calcula-os na casa da centena. Um dos últimos pode ter sido o guarda-vidas da piscina do Ritz.
Purnell mostra que Pamela era uma mulher forte,sabia o que queria e gostava do andar de cima,onde vivia. Tomou chá com Adolf Hitler e foi amiga de Mikhail Gorbachev.
Pamela foi Churchill,mas morreu como Pamela Harriman,viúva do ícone americano Averell Harriman. Apelidado de Crocodilo,ele nasceu milionário,foi o homem do presidente Franklin Roosevelt em Londres nos primeiros anos da Segunda Guerra (quando começou a namorar Pamela,nora do primeiro-ministro). Reencontraram-se em 1971 e casaram-se meses depois.