Escolas públicas estaduais têm segunda pior nota do país; rede municipal melhora — Foto: Agência Brasil
GERADO EM: 16/08/2024 - 02:00
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De dia,a maior parte do Ciep 374 Augusto Rodrigues,em Belford Roxo,na Baixada Fluminense,funciona apenas com a luz do sol. De noite,a escola precisa improvisar. Desde março,há uma intermitência no fornecimento de luz que faz com que a maioria das salas fique no escuro. Assim,turmas do ensino médio noturno já tiveram que ter aulas no refeitório por falta de espaços adequados com iluminação. Essa é uma das dificuldades que enfrentam alunos e professores da rede estadual do Rio.
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— Imagina um professor não ter um quadro para contextualizar e explicar os conteúdos? Sem falar na dificuldade de manter a disciplina e atenção dos alunos para nossas aulas — conta um professor da escola.
Anteontem,o governo federal divulgou o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2023,e a rede estadual do Rio apareceu com a segunda pior nota do país no ensino médio,à frente apenas do Rio Grande do Norte. Essa é uma posição que o estado já ocupou em 2011,e para onde voltou a despencar no ano passado. Os dados mostram que a nota caiu de 3,9,em 2021,para 3,3,em 2023. Considerando apenas o resultado da prova do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb),que mede a aprendizagem dos alunos do ensino médio em Português e Matemática,a nota do Estado do Rio foi 4,2,em 2019,e 3,em 2023.
Um erro apontado por grande parte dos especialistas ouvidos pelo GLOBO é a inexistência,na rede estadual,de sistemas de avaliação. Diretora do Instituto João e Maria Backheuser (IJMB) e especialista em política educacional,Teca Pontual cita a extinção do Sistema de Avaliação da Educação do Estado do Rio (Saerj) em 2017:
— A estrutura que o estado oferece atualmente não favorece o ensino. A gente está vendo o desmonte da Educação. Não há mais avaliação,então fica muito difícil fazer essa gestão. É importante mostrar o resultado por aluno e por professor.
Inforgráfico — Foto: Editoria de Arte
Como na rede pública os alunos passam o ensino fundamental em colégios do município e o ensino médio em escolas da rede estadual,é fato que,em algum momento,o adolescente passará por dificuldades,segundo Priscila Cruz,presidente do Todos Pela Educação. Na opinião dela,essa descontinuidade é prejudicial:
— Vamos imaginar que o fundamental é o primeiro tempo do jogo e o ensino médio,o segundo. O estudante que está na rede municipal do Rio ganha o jogo no primeiro tempo. E ganha bem. Aí ele leva um 7 a 1 no segundo tempo. Então,perde o jogo na etapa final. Isso é muito ruim — enfatiza.
Uma das soluções para o problema pode estar na construção de um um diálogo entre as diferentes redes,diz a especialista:
— O estado precisa fazer um trabalho em regime de colaboração com os municípios e um projeto pedagógico que seja claro,num processo que seja compartilhado com toda a rede.
João Magalhães,especialista em Educação e presidente do Conselho do Grupo Primum Educacional,enfatiza que faltam políticas públicas de longo prazo.
— O Rio tem um histórico de troca muito grande de governadores e,principalmente,de secretários de Educação,e isso provoca uma quebra das políticas que estavam sendo implementadas e de novas políticas. Ou seja,há uma falta de continuidade — disse Magalhães. — Além disso,tem o problema econômico que acaba gerando insatisfação por parte dos professores e levando à realização de greves. Tem também o problema de valorização dos professores,que é nacional,mas no Rio é mais forte. Isso inclui não só os salários baixos,que é uma parte importante,mas também a falta de benefícios e treinamentos.
Em nota enviada ao GLOBO,a Secretaria estadual de Educação diz que “uma série de medidas vão refletir positivamente no Ideb”,como a “recomposição de aprendizagem para todas as 1.233 unidades da rede e a ampliação da oferta do ensino integral,com 80 mil vagas em 400 escolas”. Acrescentou que “o governo herdou um déficit histórico de aprendizagem e que recebe alunos do ensino fundamental com defasagem de ensino,impactado pela aprovação automática dos estudantes,conforme determinado pelo MEC em 2021 e 2022”.
Diferentemente do que o órgão pontua,a aprovação automática não foi determinada pelo Ministério da Educação,mas recomendada pelo Conselho Nacional de Educação. De qualquer jeito,na lista das dez piores escolas públicas do estado de ensino médio,nove ficam na capital. Já sobre a falta de energia no Augusto Rodrigues,a secretaria afirmou que está em andamento um processo para readequação de carga elétrica.
Na capital,a prefeitura é responsável pelo ensino fundamental,também avaliado pelo Ideb. A rede municipal tirou nota 6 (no segmento de anos iniciais,do 1º ao 5º ano). Apesar de não ter atingido a meta de 6,4,as escolas apresentaram uma melhora em relação à última avaliação de 2021,quando ficaram com 5,4. Já no segundo segmento (do 6º ao 9º ano),entre as capitais do Sudeste,a rede municipal alcançou a melhor nota no Ideb 2023: 5,2. Está à frente de Vitória (nota 5),São Paulo (4,8) e Belo Horizonte (4,7). Ainda assim não superou a meta de 5,7.
Secretário municipal de Educação,Renan Ferreirinha acredita que a melhora seja efeito do programa de avaliação.
— Em 2021,criamos a Gestão de Aprendizagem e Resultado,fruto de uma percepção nossa rodando escolas do Rio. A cidade teve um apagão de dados,então voltamos a fazer avaliações bimestrais para entender se o aluno estava com dificuldades. Privilegiamos acompanhamento da formação de aprendizagem,formação continuada,avaliação e material didático. Esses são nossos quatro pilares — diz.